A "Nuvem" é o eufemismo mais bem-sucedido da história do marketing corporativo. A palavra foi escolhida a dedo para evocar leveza, imaterialidade, algo branco e fofo flutuando acima das leis da física. É uma mentira projetada para fazer você esquecer que cada byte tem peso, calor e custo.
A Nuvem não é vapor. A Nuvem é uma megaestrutura industrial de concreto armado, cabos submarinos da grossura de um tronco humano rasgando o assoalho oceânico, e galpões do tamanho de cidades consumindo a energia de países inteiros. A Nuvem não flutua; ela queima.
O teórico Jussi Parikka, em A Geology of Media, argumenta que a era digital é, na verdade, uma nova era geológica. Para criar a tela onde você lê isso, montanhas inteiras foram movidas. A mídia não é "sem fio" (wireless); ela é profundamente enraizada na crosta terrestre. O "tempo profundo" dos minerais colide com o "tempo real" da rede.
Kate Crawford, em Atlas of AI, não fala de software; ela fala de geologia. Para que o algoritmo "pense", a terra precisa ser esviscerada. Seu smartphone é um cemitério geológico: ele contém lítio dos lagos de salmoura da Bolívia, cobalto escavado por mãos infantis em minas artesanais no Congo, e terras raras refinadas em lagos tóxicos na Mongólia Interior.
A Inteligência Artificial é, na verdade, uma indústria extrativista. Treinar um único modelo de linguagem grande (LLM) consome tanta água para resfriamento quanto uma pessoa beberia em 20 anos. O Norte Global fica com a "inteligência" e o lucro; o Sul Global fica com a seca, as crateras e o lixo tóxico.
Podemos escapar dessa máquina de moer o planeta? A resposta não é "tecnologia verde" corporativa (que apenas vende novos produtos "verdes"), mas uma mudança radical de paradigma chamada Permacomputação.
Inspirada na permacultura, essa filosofia exige uma tecnologia que dure, que possa ser consertada e que use o mínimo de energia possível. É o oposto da obsolescência programada. É a estética Solarpunk: computadores feitos de bambu e micélio, redes locais que rodam com a energia de um painel solar no telhado, softwares otimizados para rodar em hardware de 10 anos atrás.
| Obsolescência Programada | Feito para quebrar. Software pesado força troca de hardware. Ciclo de 2 anos. |
| Permacomputação | Feito para durar. Software leve revitaliza hardware antigo. Ciclo de 10+ anos. |
A versão algorítmica de você é um consumidor insaciável de novidade. O algoritmo precisa que você sinta que seu dispositivo de dois anos atrás é "lixo", para que a roda da extração continue girando.
Reivindicar sua autoria significa reconhecer o peso das suas ferramentas. Significa tratar seu computador não como um consumível descartável, mas como uma ferramenta preciosa e custosa para a Terra, que deve ser honrada através da longevidade.
A Greve de Atualização
Os fabricantes de software deixam seus dispositivos lentos propositalmente para forçar a troca. Resista.
Sua missão: Hoje, faça a manutenção do seu hardware. Limpe a porta de carregamento. Delete aplicativos pesados. Prometa a si mesmo: "Não vou comprar nada novo este ano."